Estou a ver que os meus colegas já contribuíram com diversas ideias bastante interessantes, mas, antes de mais, gostaria só de falar um pouco sobre o Blog e os seus objectivos. Trata-se de um projecto universitário para a cadeira de Psicologia da Comunicação do curso de Som e Imagem da Universidade Católica Portuguesa. Formamos um grupo de 5 (António Miguel, Pedro, Joana, Igor e Diogo) e foi-nos pedido para criar um blog onde o tópico seria escolhido por nós e teria de ser relacionado com exemplos distintos de obras de arte ou outros elementos dos media. O tema que escolhemos está explícito no titulo de forma simplificada, Futuro Interactivo. Talvez careça de criatividade, mas cumpre a sua função. De facto, os assuntos que ocupam este espaço dedicam-se a explorar a relação que existe entre o homem e a tecnologia e como esta irá evoluir no futuro. Por outras palavras, o que pensamos nós do destino da humanidade como animal dependente de ferramentas. Seguindo a tendência da evolução tecnológica nos últimos séculos, poderemos deduzir que estamos condenados a perder a nossa fisicalidade ou será que é a própria tecnologia que vai adquirir cada vez mais atributos humanos?
Embora possa parecer uma questão para autores de ficção científica, eu argumentaria que já hoje em dia se pode observar indícios de ambas as possibilidades. Vejamos o exemplo de milhares de pessoas que passam várias horas diariamente em mundos virtuais como o Second life e o World of warcraft. Não quero estar a estereotipar todas elas como ermitãs cibernéticas, mas, de facto, existem alguns indivíduos que dedicaram a sua vida a essas realidades. Os seus corpos tornaram-se apenas recipientes para as suas mentes, vivem desligados da realidade.
São julgados como pessoas desequilibradas e anti-sociais, mas quando esses programas se tornarem indistinguíveis da realidade, como o Pedro falou na sua entrada sobre o Matrix, que razões teremos nós para desejar continuar neste mundo de limitações? (Não é uma pergunta retórica, estou genuinamente curioso.)
Embora ache que esse seja um fim provável para a nossa espécie, gostava também de explorar uma outra possibilidade. Uma tendência recente de humanizar a tecnologia. Cada vez mais distantes são os tempos em que para mexer num computador era necessário um manual ou mesmo um curso informático. Comparem o interface do MS-DOS com o do iPhone para compreender o que eu quis dizer quando me referi à humanização da tecnologia. Não somos nós que nos adaptamos à máquina mas sim o contrário. Quanto mais intuitiva se torna a interacção com a tecnologia mais se assemelha com as ferramentas analógicas de outros tempos. Vejamos a Nintendo Wii como exemplo disso. Num jogo electrónico de ténis, não é mais necessário decorar uma série de comandos para poder jogar, basta fazer os movimentos da raquete em sincronia com as imagens do ecrã.
Provavelmente toda esta tendência não é mais do que uma fase passageira até ao momento da singularidade tecnológica. Mas falaremos mais disso noutra altura, para já fica aqui o convite para todos que queiram explorar connosco o futuro fantástico da relação entre o homem e amáquina!
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Bem, pelo menos sabemos que no mínimo dos mínimos a Professora de psicologia à de ler o blog.
Certo? : (
quinta-feira, 26 de março de 2009
" The message of any medium or technology is the change of scale or pace or pattern that it introduces into human affairs. The railway did not introduce movement or transportation or wheel or road into human society, but it accelerated and enlarged the scale of previous human functions, creating totally new kinds of cities and new kinds of work and leisure. This happened whether the railway functioned in a tropical or northern environment, and is quite independent of the freight or content of the railway medium." (Marshall McLuhan; Understanding Media, N. Y., 1964, p. 8)
No outro dia, em conversa corriqueira pós-jantar, uma amiga falava da sua prima que recentemente se tornou mãe, desassossegada com o primeiro rebento e com possibilidades de o fazer, a nova mamã muniu-se com todos os instrumentos que o mercado oferece para propiciar à criança os mais avançados primeiros anos de vida possíveis de que o mercado dispõe. É o termómetro especial para medir a temperatura do leite, que apenas parece diferir de um termómetro normal em três aspectos, apresentar-se como especial para medir a temperatura do leite, consecutivamente o preço e por último estar graduado em fahrenheit, impossibilitando a nova mamã de saber a que temperatura o leite está. Outro problema com que se deparou foi a impossibilidade de aquecer dois biberões ao mesmo tempo, pois a máquina que comprou para o efeito apenas suporta um recipiente de cada vez. Em ambas as situações a jovem progenitora não conseguiu encontrar uma solução, o método de utilizar uma panela com água a ferver para aquecer a tecnologia de mamar da criança não lhe passou pela cabeça. Estas e outras peripécias levaram a minha amiga a concluir que a tecnologia torna as pessoas burras.
Esta afirmação recordou-me de imediato o senhor Marshall Mcluhan e a ideia defendida por ele de que os media são todos extensões dos nossos membros, ou dos nossos sentidos. Parece que o primeiro a afirmar isto terá sido R. W. Emerson: "The human body is the magazine of inventions, the patent-office, where are the models from which every hint was taken. All the tools and engines on earth are only extensions of its limbs and senses" (1870) . Regressando uns largos milhares de anos no tempo, recordo a primeira invenção que provocou uma profunda alteração no comportamento humano, o fogo. Este extensão da visão tornou o Homem um ser sedentário, deixou de existir a necessidade de migrar para fugir às estações mais geladas. A partir deste incerto momento o Homem desenvolveu tecnologias, medias, que lhe foram proporcionando um maior conforto. Pensando conforto na amplitude que esta analise exige, ou seja, pensando a pirâmide das necessidades humanas desde a sua base, ter que comer, ter que vestir, não ser morto por um animal e todas as etapas necessárias para nos aproximarmos do conceito moderno de conforto. Ao longo de milhares de anos, associado a este desenvolvimento tecnológico, existiu sempre um ideal, que arrisco dizer inato no Homem, o ideal de fronteira. O outro lado da montanha, o outro lado do lago, o outro lado do deserto, o outro lado do oceano, o outro lado, sempre desconhecido, a fronteira. Com a actual evolução tecnológica, e pensando os satélites como as mais magnificentes extensões da visão até hoje inventadas e que nos permitem observar a totalidade do nosso planeta, o ideal de fronteira morreu no espírito humano. Certamente os mais entusiastas com as potencialidades espaciais criticarão esta posição, mas a realidade é que não existe ainda nenhum elemento que permita ao Homem, ou mais importante, ao homem comum, imaginar o seu futuro no espaço sideral, ou em outro planeta. Não é imaginável que, durante o tempo de vida de qualquer geração já viva no nosso planeta, o homem comum possa viver no espaço, como o homem comum sonhou em viver no Novo Mundo e é por isto que defendo que o ideal de fronteira morreu no nosso espírito. Utilizando o cliché, o espaço é a última fronteira, mas apenas é a última, porque é a próxima, mas ainda não existem os media que permitam estender até ele, como a roda estendeu, como o barco estendeu, como o avião estendeu, pois para todos os sítios que estes medias nos levaram sabíamos que podíamos viver. O ideal de fronteira ainda existe, apenas para aqueles que procuram melhores condições de vida, claro que isto sempre lhe esteve associado, mas esta condição apresenta-se na grande maioria dos casos sem o grau de desconhecimento que antes apresentava e, talvez mais importante que isto, quando atravessada essa fronteira, estas pessoas integram-se numa sociedade que, já tendo atingido melhores condições de vida, perdeu ou, dependendo da geração, nunca chegou a sentir o já diversas vezes referido ideal. Observando esta imprecisa amostra da sociedade, que exclui, por facilitismo ensaístico e pela visão utópica/distópica de igual acesso aos media por todos mais a frente apresentada, a crescente classe baixa e que, pelo tempo em que vivemos, a classe média também. Podemos nomear o entretenimento e a facilitação ou mesmo a anulação na execução de tarefas, como as necessidades que homem comum procura satisfazer e pelas quais rege a sua vida. Claro que existem as necessidades intemporais, como as amorosas, as sexuais e as sociais, mas estas podemos incluir no segundo ponto nomeado, pois os media alteraram completamente a forma de as satisfazer, indo ao encontro da tal facilitação. Voltando ao inicio do texto e tendo em mente que no ideal de fronteira na sua enorme complexidade, se encontra a força principal que fez o homem superar-se ao longo da história, até que ponto ela não nos levará a um esgotamento no nosso desenvolvimento? Tentando tornar a pergunta mais clara, acreditando que os media são extensões do nosso corpo, o desenvolvimento tecnológico visa sempre estender algum sentido ou membro desse corpo. Isto leva a que a nossa capacidade enquanto corpo e mente sem extensões vá diminuindo, pois para tudo existe uma extensão substituta. Talvez por isso, a nova mamã não tenha conseguido encontrar uma solução para os seus problemas, pois o seu pensamento está moldado de forma a procurar sempre um media, uma extensão para as suas necessidades, sendo isto um estado a que cada vez mais os novos media condicionam. Em vez de estimular o nosso desenvolvimento, tornam o pensamento fragmentado, ao obrigar a existência de extensões cada vez mais específicas para cada função, ao mesmo tempo que tornam medias antigos em obsoletos pela inaptidão que o novo pensamento do Homem acarreta, pense-se o caso do biberão. Avançando indefinidamente no tempo, chegará a altura em que os pés não precisarão de ser utilizados, pois a tecnologia procura uma extensão que isto possibilite. Existindo o media que permita o homem deslocar-se sem qualquer tipo de limitação e dispêndio de energia, os pés não serão mais necessários. Isto é aplicável a todas as extensões, todas elas terão a sua situação extrema e, nesse extremo onde a execução de tarefas não é mais necessária, qual será o caminho? Avançaremos para um extensão última em que nos separaremos das limitações do nosso corpo e para as quais os media sempre atenderam? Ou acabaremos esborrachados contra o vidro, com corpos incapazes de serem usados sem extensões e um raciocínio sem engenho porque nunca precisou de ser espicaçado? (vejam o excerto do filme Wall-E, colocado em baixo, ou de preferência vejam o filme na sua totalidade)
Poderemos nós (humanos) estar daqui a 200 anos num futuro totalmente virtual como o do filme MATRIX, onde os nossos sentidos têm total liberdade para se manifestarem num programa de computador, onde vivemos e interagimos como homens do séc. XX. Será este programa o máximo da nossa existência enquanto humanos, não entrando na parte em que as máquinas nos prenderam para se alimentarem dos 120 volts de energia que o corpo produz? Desta forma, esta será talvez o máximo possível de nós, interagirmos com a interactividade dos media, para mim acho de facto isto fantástico e, de certa forma, aterrador, porque o que seria de nós ligados a máquinas 24h por dia. Iremos tornar-nos seres de sonho de virtualidade, não será essa virtualidade que estamos hoje atravessar em que tudo nos parece virtual, a informação flui mais rapidamente do que nunca mas as pessoas continuam as mesmas, ou serão diferentes, de facto estamos diferentes mais cultos mais abertos ao mundo, mas ao mesmo tempo também mais fechados, pois esta informação funciona através de maquinas e não através das pessoas, mas para nós. Estamos então a ganhar extensões através dos media como McLhuan diz, será este o caminho mais próximo para o mundo de sonho latente, como o de MATRIX ?
Acho que sim, Joana, pois a música antes do séc. XX, estava sempre associada a um músico e o músico seria então o aspecto visual da música, também existiam concertos, claro, e actuações teatrais como ópera e outros. A ideia do CD ou da tape é mais recente. Penso que era a isso que te referias. Concordo também com Mclhuan: os media vão sempre pelo caminho mais cool, talvez por ser o mais fácil ou o mais produtivo também.
Durante a pesquisa de um tema de trabalho surgiu-nos uma dúvida relativa à forma como os interfaces se apresentarão no futuro. Como muitos autores citaram, vivemos num mundo bastante visual e, conforme a evolução tecnológica que tem vindo a ocorrer neste século, deixamos de ver um objecto num plano real, para um plano bidimensional e neste momento não só podemos ver num plano tridimensional como também podemos interagir com a representação gráfica do objecto, numa tela bem mais variada do que a tradicional pintura. Ou seja, podemos realmente concordar que, se ainda não vivemos totalmente num mundo visual, ou não o percebemos porque é algo que neste momento está a acontecer ou então damos demasiada primazia ao sentido em causa. Só que, por outro lado, pensamos que mesmo assim e pegando nas ideias de Mcluhan os medias estão a tornar-se demasiado COOL, logo não só abrangem um sentido, como o da visão, mas também o da audição e do tacto - que envolvem e captam de uma forma mais eficaz a atenção do espectador . Então pergunto-me porque que é que os medias do tipo Hot com base noutros sentidos sem ser o da visão, estão a ser menos desenvolvidos? Uma possível resposta está no facto de a audição, entre outros sentidos como o olfacto, serem pessoais. Não podemos entrar na cabeça de uma pessoa para dizer «Hum, acho que foi isso que senti», porque, para fazermos essa relação, vamos cruzar os nossos conhecimentos/as nossas ideias e imagens associadas ao conhecimento em causa. Estamos a ser a outra pessoa e não nós. Possivelmente através de imagens teríamos uma percepção melhor do outro sem perder a nossa identidade. A música, como exemplo sonoro com carácter mais abstracto, necessita muitas vezes de recorrer a um suporte visual para o espectador criar ligações com aquilo que conhece e atribuir um significado. Será que antigamente, antes do séc. XX, tal acontecia?