" The message of any medium or technology is the change of scale or pace or pattern that it introduces into human affairs. The railway did not introduce movement or transportation or wheel or road into human society, but it accelerated and enlarged the scale of previous human functions, creating totally new kinds of cities and new kinds of work and leisure. This happened whether the railway functioned in a tropical or northern environment, and is quite independent of the freight or content of the railway medium." (Marshall McLuhan; Understanding Media, N. Y., 1964, p. 8)
No outro dia, em conversa corriqueira pós-jantar, uma amiga falava da sua prima que recentemente se tornou mãe, desassossegada com o primeiro rebento e com possibilidades de o fazer, a nova mamã muniu-se com todos os instrumentos que o mercado oferece para propiciar à criança os mais avançados primeiros anos de vida possíveis de que o mercado dispõe. É o termómetro especial para medir a temperatura do leite, que apenas parece diferir de um termómetro normal em três aspectos, apresentar-se como especial para medir a temperatura do leite, consecutivamente o preço e por último estar graduado em fahrenheit, impossibilitando a nova mamã de saber a que temperatura o leite está. Outro problema com que se deparou foi a impossibilidade de aquecer dois biberões ao mesmo tempo, pois a máquina que comprou para o efeito apenas suporta um recipiente de cada vez. Em ambas as situações a jovem progenitora não conseguiu encontrar uma solução, o método de utilizar uma panela com água a ferver para aquecer a tecnologia de mamar da criança não lhe passou pela cabeça. Estas e outras peripécias levaram a minha amiga a concluir que a tecnologia torna as pessoas burras.
Esta afirmação recordou-me de imediato o senhor Marshall Mcluhan e a ideia defendida por ele de que os media são todos extensões dos nossos membros, ou dos nossos sentidos. Parece que o primeiro a afirmar isto terá sido R. W. Emerson: "The human body is the magazine of inventions, the patent-office, where are the models from which every hint was taken. All the tools and engines on earth are only extensions of its limbs and senses" (1870) . Regressando uns largos milhares de anos no tempo, recordo a primeira invenção que provocou uma profunda alteração no comportamento humano, o fogo. Este extensão da visão tornou o Homem um ser sedentário, deixou de existir a necessidade de migrar para fugir às estações mais geladas. A partir deste incerto momento o Homem desenvolveu tecnologias, medias, que lhe foram proporcionando um maior conforto. Pensando conforto na amplitude que esta analise exige, ou seja, pensando a pirâmide das necessidades humanas desde a sua base, ter que comer, ter que vestir, não ser morto por um animal e todas as etapas necessárias para nos aproximarmos do conceito moderno de conforto. Ao longo de milhares de anos, associado a este desenvolvimento tecnológico, existiu sempre um ideal, que arrisco dizer inato no Homem, o ideal de fronteira. O outro lado da montanha, o outro lado do lago, o outro lado do deserto, o outro lado do oceano, o outro lado, sempre desconhecido, a fronteira. Com a actual evolução tecnológica, e pensando os satélites como as mais magnificentes extensões da visão até hoje inventadas e que nos permitem observar a totalidade do nosso planeta, o ideal de fronteira morreu no espírito humano. Certamente os mais entusiastas com as potencialidades espaciais criticarão esta posição, mas a realidade é que não existe ainda nenhum elemento que permita ao Homem, ou mais importante, ao homem comum, imaginar o seu futuro no espaço sideral, ou em outro planeta. Não é imaginável que, durante o tempo de vida de qualquer geração já viva no nosso planeta, o homem comum possa viver no espaço, como o homem comum sonhou em viver no Novo Mundo e é por isto que defendo que o ideal de fronteira morreu no nosso espírito. Utilizando o cliché, o espaço é a última fronteira, mas apenas é a última, porque é a próxima, mas ainda não existem os media que permitam estender até ele, como a roda estendeu, como o barco estendeu, como o avião estendeu, pois para todos os sítios que estes medias nos levaram sabíamos que podíamos viver. O ideal de fronteira ainda existe, apenas para aqueles que procuram melhores condições de vida, claro que isto sempre lhe esteve associado, mas esta condição apresenta-se na grande maioria dos casos sem o grau de desconhecimento que antes apresentava e, talvez mais importante que isto, quando atravessada essa fronteira, estas pessoas integram-se numa sociedade que, já tendo atingido melhores condições de vida, perdeu ou, dependendo da geração, nunca chegou a sentir o já diversas vezes referido ideal. Observando esta imprecisa amostra da sociedade, que exclui, por facilitismo ensaístico e pela visão utópica/distópica de igual acesso aos media por todos mais a frente apresentada, a crescente classe baixa e que, pelo tempo em que vivemos, a classe média também. Podemos nomear o entretenimento e a facilitação ou mesmo a anulação na execução de tarefas, como as necessidades que homem comum procura satisfazer e pelas quais rege a sua vida. Claro que existem as necessidades intemporais, como as amorosas, as sexuais e as sociais, mas estas podemos incluir no segundo ponto nomeado, pois os media alteraram completamente a forma de as satisfazer, indo ao encontro da tal facilitação. Voltando ao inicio do texto e tendo em mente que no ideal de fronteira na sua enorme complexidade, se encontra a força principal que fez o homem superar-se ao longo da história, até que ponto ela não nos levará a um esgotamento no nosso desenvolvimento? Tentando tornar a pergunta mais clara, acreditando que os media são extensões do nosso corpo, o desenvolvimento tecnológico visa sempre estender algum sentido ou membro desse corpo. Isto leva a que a nossa capacidade enquanto corpo e mente sem extensões vá diminuindo, pois para tudo existe uma extensão substituta. Talvez por isso, a nova mamã não tenha conseguido encontrar uma solução para os seus problemas, pois o seu pensamento está moldado de forma a procurar sempre um media, uma extensão para as suas necessidades, sendo isto um estado a que cada vez mais os novos media condicionam. Em vez de estimular o nosso desenvolvimento, tornam o pensamento fragmentado, ao obrigar a existência de extensões cada vez mais específicas para cada função, ao mesmo tempo que tornam medias antigos em obsoletos pela inaptidão que o novo pensamento do Homem acarreta, pense-se o caso do biberão. Avançando indefinidamente no tempo, chegará a altura em que os pés não precisarão de ser utilizados, pois a tecnologia procura uma extensão que isto possibilite. Existindo o media que permita o homem deslocar-se sem qualquer tipo de limitação e dispêndio de energia, os pés não serão mais necessários. Isto é aplicável a todas as extensões, todas elas terão a sua situação extrema e, nesse extremo onde a execução de tarefas não é mais necessária, qual será o caminho? Avançaremos para um extensão última em que nos separaremos das limitações do nosso corpo e para as quais os media sempre atenderam? Ou acabaremos esborrachados contra o vidro, com corpos incapazes de serem usados sem extensões e um raciocínio sem engenho porque nunca precisou de ser espicaçado? (vejam o excerto do filme Wall-E, colocado em baixo, ou de preferência vejam o filme na sua totalidade)
No outro dia, em conversa corriqueira pós-jantar, uma amiga falava da sua prima que recentemente se tornou mãe, desassossegada com o primeiro rebento e com possibilidades de o fazer, a nova mamã muniu-se com todos os instrumentos que o mercado oferece para propiciar à criança os mais avançados primeiros anos de vida possíveis de que o mercado dispõe. É o termómetro especial para medir a temperatura do leite, que apenas parece diferir de um termómetro normal em três aspectos, apresentar-se como especial para medir a temperatura do leite, consecutivamente o preço e por último estar graduado em fahrenheit, impossibilitando a nova mamã de saber a que temperatura o leite está. Outro problema com que se deparou foi a impossibilidade de aquecer dois biberões ao mesmo tempo, pois a máquina que comprou para o efeito apenas suporta um recipiente de cada vez. Em ambas as situações a jovem progenitora não conseguiu encontrar uma solução, o método de utilizar uma panela com água a ferver para aquecer a tecnologia de mamar da criança não lhe passou pela cabeça. Estas e outras peripécias levaram a minha amiga a concluir que a tecnologia torna as pessoas burras.
Esta afirmação recordou-me de imediato o senhor Marshall Mcluhan e a ideia defendida por ele de que os media são todos extensões dos nossos membros, ou dos nossos sentidos. Parece que o primeiro a afirmar isto terá sido R. W. Emerson: "The human body is the magazine of inventions, the patent-office, where are the models from which every hint was taken. All the tools and engines on earth are only extensions of its limbs and senses" (1870) . Regressando uns largos milhares de anos no tempo, recordo a primeira invenção que provocou uma profunda alteração no comportamento humano, o fogo. Este extensão da visão tornou o Homem um ser sedentário, deixou de existir a necessidade de migrar para fugir às estações mais geladas. A partir deste incerto momento o Homem desenvolveu tecnologias, medias, que lhe foram proporcionando um maior conforto. Pensando conforto na amplitude que esta analise exige, ou seja, pensando a pirâmide das necessidades humanas desde a sua base, ter que comer, ter que vestir, não ser morto por um animal e todas as etapas necessárias para nos aproximarmos do conceito moderno de conforto. Ao longo de milhares de anos, associado a este desenvolvimento tecnológico, existiu sempre um ideal, que arrisco dizer inato no Homem, o ideal de fronteira. O outro lado da montanha, o outro lado do lago, o outro lado do deserto, o outro lado do oceano, o outro lado, sempre desconhecido, a fronteira. Com a actual evolução tecnológica, e pensando os satélites como as mais magnificentes extensões da visão até hoje inventadas e que nos permitem observar a totalidade do nosso planeta, o ideal de fronteira morreu no espírito humano. Certamente os mais entusiastas com as potencialidades espaciais criticarão esta posição, mas a realidade é que não existe ainda nenhum elemento que permita ao Homem, ou mais importante, ao homem comum, imaginar o seu futuro no espaço sideral, ou em outro planeta. Não é imaginável que, durante o tempo de vida de qualquer geração já viva no nosso planeta, o homem comum possa viver no espaço, como o homem comum sonhou em viver no Novo Mundo e é por isto que defendo que o ideal de fronteira morreu no nosso espírito. Utilizando o cliché, o espaço é a última fronteira, mas apenas é a última, porque é a próxima, mas ainda não existem os media que permitam estender até ele, como a roda estendeu, como o barco estendeu, como o avião estendeu, pois para todos os sítios que estes medias nos levaram sabíamos que podíamos viver. O ideal de fronteira ainda existe, apenas para aqueles que procuram melhores condições de vida, claro que isto sempre lhe esteve associado, mas esta condição apresenta-se na grande maioria dos casos sem o grau de desconhecimento que antes apresentava e, talvez mais importante que isto, quando atravessada essa fronteira, estas pessoas integram-se numa sociedade que, já tendo atingido melhores condições de vida, perdeu ou, dependendo da geração, nunca chegou a sentir o já diversas vezes referido ideal. Observando esta imprecisa amostra da sociedade, que exclui, por facilitismo ensaístico e pela visão utópica/distópica de igual acesso aos media por todos mais a frente apresentada, a crescente classe baixa e que, pelo tempo em que vivemos, a classe média também. Podemos nomear o entretenimento e a facilitação ou mesmo a anulação na execução de tarefas, como as necessidades que homem comum procura satisfazer e pelas quais rege a sua vida. Claro que existem as necessidades intemporais, como as amorosas, as sexuais e as sociais, mas estas podemos incluir no segundo ponto nomeado, pois os media alteraram completamente a forma de as satisfazer, indo ao encontro da tal facilitação. Voltando ao inicio do texto e tendo em mente que no ideal de fronteira na sua enorme complexidade, se encontra a força principal que fez o homem superar-se ao longo da história, até que ponto ela não nos levará a um esgotamento no nosso desenvolvimento? Tentando tornar a pergunta mais clara, acreditando que os media são extensões do nosso corpo, o desenvolvimento tecnológico visa sempre estender algum sentido ou membro desse corpo. Isto leva a que a nossa capacidade enquanto corpo e mente sem extensões vá diminuindo, pois para tudo existe uma extensão substituta. Talvez por isso, a nova mamã não tenha conseguido encontrar uma solução para os seus problemas, pois o seu pensamento está moldado de forma a procurar sempre um media, uma extensão para as suas necessidades, sendo isto um estado a que cada vez mais os novos media condicionam. Em vez de estimular o nosso desenvolvimento, tornam o pensamento fragmentado, ao obrigar a existência de extensões cada vez mais específicas para cada função, ao mesmo tempo que tornam medias antigos em obsoletos pela inaptidão que o novo pensamento do Homem acarreta, pense-se o caso do biberão. Avançando indefinidamente no tempo, chegará a altura em que os pés não precisarão de ser utilizados, pois a tecnologia procura uma extensão que isto possibilite. Existindo o media que permita o homem deslocar-se sem qualquer tipo de limitação e dispêndio de energia, os pés não serão mais necessários. Isto é aplicável a todas as extensões, todas elas terão a sua situação extrema e, nesse extremo onde a execução de tarefas não é mais necessária, qual será o caminho? Avançaremos para um extensão última em que nos separaremos das limitações do nosso corpo e para as quais os media sempre atenderam? Ou acabaremos esborrachados contra o vidro, com corpos incapazes de serem usados sem extensões e um raciocínio sem engenho porque nunca precisou de ser espicaçado? (vejam o excerto do filme Wall-E, colocado em baixo, ou de preferência vejam o filme na sua totalidade)
Achei muita piada a tua história do biberão. Realmente é um bom exemplo para demonstrar como alguns meios tecnológicos estão a atrofiar a nossa capacidade de resolver problemas. Fez-me também lembrar de um outro produto que descubri recentemente. A corda de saltar á corda, sem corda.
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=Va2Ydlf2cqc
-Diogo Barbosa