Na minha ultima entrada neste blog falei de duas possíveis tendências para a evolução da relação entre o homem e a tecnologia. Dois possíveis futuros. Ou as nossas invenções se tornariam mais como nós, mais humanas, ou seriamos nós que nos adaptaríamos a elas.
Mencionei a Nintendo Wii como um exemplo popular de um interface electrónico humanizado, e os jogos sociais como o Second Life como exemplo da tecnologia a sobrepor-se á fisicalidade humana.
Não acho que se trate de uma questão de qual dos dois futuros se tornará realidade, pois ambos se estão a materializar neste preciso momento. Contudo sinto que o acto de ensinar as maquinas a falar humano pode vir a ser apenas uma fase passageira pois é uma necessidade ligada apenas as ultimas gerações humanas. Nós ainda nascemos num mundo onde os livros eram feitos de centenas de paginas de papel. A forma de interagir com eles resumia-se a folhear com os dedos as paginas para avançar a leitura. Para nós faz sentido o acto de folhear, e esse gesto pode ser simulado por um monitor sensível ao toque como o do iPhone. Isto resulta num interface bastante intuitivo, mas imaginemos um futuro onde todos os livros do mundo foram substituídos por este tipo de simulações. Fará sentido para essas futuras gerações continuar a folhear? Indivíduos que nunca tiveram contacto com um livro verdadeiro e que conseguem mudar de pagina simplesmente através do pensamento? É provável que o homo sapiens como o conhecemos esteja para se extinguir em breve, e não me refiro a um grande evento apocalyptico, falo apenas da possível forma como a tecnologia nos vai alterar profundamente nos próximos séculos ao ponto de tornar-nos numa nova espécie.
Especular de que forma isso irá acontecer é dos meus temas preferidos, e um que já foi abordado repetidamente pelos media em filmes como o Terminator e o Matrix. Esses filmes sugerem que as maquinas se vão virar contra nós mal se apercebam da futilidade de servir uma raça inferior. Mas pondo para já de lado essa possibilidade pessimista, que outras formas existem de entrarmos nos próximos séculos? O Igor mencionou o mais recente filme da Pixar, o Wall-E, que achei um exemplo bastante interessante de um possível futuro da relação entre o homem e as suas ferramentas.
Para os que ainda não viram, o Wall-E é um filme passado 700 anos no futuro onde os humanos abandonaram a terra devido a graves problemas de poluição. A superfície do globo está totalmente coberta de lixo. Ficou encarregue ao solitário Wall-E a missão de limpar o planeta, até que um dia este vai-se envolver numa serie de aventuras que o vão levar para fora da terra até á actual residência da raça humana, uma nave espacial. A forma como essa nave e os humanos que lá vivem estão retratados é que é de especial interesse para este blog. Os seus corpos obesos e atrofiados ao ponto de parecerem balões de água devido á falta de exercício físico são totalmente inúteis. Como o Igor falou, as extensões tecnológicas inventadas para substituir os nossos pés deixaram marcas profundas no nosso corpo. Neste futuro as facilidades providenciadas pelas máquinas tornaram o homem num animal sem objectivos. Não necessita de trabalhar nem de fazer o mínimo esforço para adquirir o seu conforto. Vive apenas para o lazer e o consumismo superficial.
Isto levanta algumas questões mais filosóficas que o Miguel falou sobre o propósito da vida. Se num futuro como o do Wall-E a nossa função primária ainda for a procura da felicidade então eu diria que a humanidade fracassou. Ficou encalhada num tempo sem mudança e sem evolução, sem criatividade e inovação.
Mas isto segundo o contexto de uma raça que ainda é inteiramente humana, embora extremamente obesa, pois é possível que venhamos a alterar a nossa essência ao ponto de substituirmos completamente as necessidades que consideramos básicas. Falo disto pois acho bastante provável que no futuro tome lugar um acontecimento revolucionário denominado de singularidade tecnológica. Esta singularidade refere-se ao momento em que o homem cria uma máquina capaz de se auto-melhorar. Isto resultaria num crescimento exponencial de avanços tecnológicos. A bioengenharia e a nano-tecnologia evoluiriam de tal forma a tornarem os nossos corpos mais fortes, as nossas mentes mais inteligentes e seriamos imunes a qualquer doença, incluindo o envelhecimento, tornando-nos virtualmente imortais. Teríamos também a capacidade de simular a mente humana em ambientes digitais, tal como no Matrix onde tudo é possível.
Num futuro assim existiriam ainda vestígios da nossa humanidade na fusão com as máquinas? Que objectivos de vida teriam estes novos seres? Crescerem e multiplicarem-se, a procura da felicidade, a procura da verdade?
Pode parecer ficção científica, mas ponde de parte um cataclismo global que nos destrua, acredito que a singularidade tecnológica é apenas uma questão de tempo.
Que medidas deveremos tomar em relação a isso? Será correcto tentar impedir esta fusão com as maquinas de modo a preservar a nossa natureza humana, independentemente dos benefícios que possa trazer?
Recomendo muito este livro para os que tiverem interessados no tema da singularidade. The Singularity is Near de Ray Kursweil.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
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