Da outra vez, mencionei o som para focar como este está a ganhar muito mais atenção nos dias de hoje face aos últimos séculos. E isso está a acontecer com todos os sentidos, todos estão a ganhar uma importância maior. Ao ler livros podemos muitas vezes ver imagens explicativas ao lado e muitos dos livros para crianças têm mensagens sonoras, a televisão utiliza também o tacto por causa do comando, entre muitos outros que fez com que Marshall Mcluhan considerasse que estamos a tornar-nos novamente homens acústicos. E o que é um homem acústico? Existiram 4 eras pela qual a humanidade passou. A era tribal, a da escrita, a da impressão e a eléctrica. Tanto na era tribal como na eléctrica o homem define o seu espaço de percepção como esférico, devido à forma como os seus sentidos são utilizados, no caso da era tribal eles davam primazia à audição que, devido a ser abstracta, a forma como aprendíamos algo era muito genérica e envolvente, deste modo esférico. Quando falamos de era electrónica, apesar de nos basearmos muito na visão, começamos a utilizar outros sentidos. Se pensarmos na televisão, não só vemos as figuras no ecrã como ouvimos sons que associamos a estas e depois também podemos utilizar o comando que envolve o sentido do tacto. Ou seja, a televisão como elemento cool media, tal como muitas tecnologias a serem desenvolvidas hoje em dia, utilizam vários sentidos que aumentam o nosso índice de atenção e tornam a percepção de um acontecimento bastante completa. Com base nessa ideia, a nossa percepção é enquadrada da mesma forma que a da era tribal e somos homens acústicos. O que aconteceu nas outras fases foi que, com a existência do livro, a forma como o mundo era conhecido passou a ser diferente. O facto de haver linearidade, que nos levava a começar num ponto e acabar noutro, que passou a ser considerado o inicio e o fim, criou a ideia de tempo como conhecemos. Este é uma linha recta, o passado fica para a esquerda e o futuro para a direito, tendo em conta que no ocidente lemos da esquerda para a direita. Para além dessa alteração, também nos começámos a focar num único sentido, que foi o da visão e, a partir daí, aquilo que víamos era verdade, a expressão “Só vendo”demonstra esse acto.
Portanto a era electrónica e as tecnologias que criámos, alteraram e alteram a nossa percepção do mundo e principalmente a nossa relação com a sociedade, provado em teorias e análises feitas a esta, incluindo a que é feita por Mcluhan. Só que, mesmo assim, mesmo havendo uma maior participação dos outros sentidos no nosso dia-a-dia, não deixo de pensar que isso não invalida o facto que tudo é representado de forma visual. O livro provocou o que hoje em dia é uma sociedade de consumo puramente visual. Os outros sentidos fazem parte do nosso mundo – considerado mundo a forma com que, individualmente, o conhecemos -, mas continuamos a acreditar naquilo que vemos, mesmo que seja uma representação visual de um objecto. Na introdução disse que “deixámos de ver um objecto num plano real, para um plano bidimensional e, neste momento, não só podemos ver num plano tridimensional como também podemos interagir com a representação gráfica do objecto, numa tela bem mais variada do que a tradicional pintura”. Colocando como exemplo um piano, quando representado numa pintura, parecia que o quadro era uma janela para um outro mundo, mas logo percebíamos que era plano, não era como ver um piano ao vivo em que o nosso ponto de vista varia conforme a nossa localização no espaço – o objecto era único apesar de só vermos partes. Nesta Era podemos dar “vida” àquele piano representado numa tela escura de cinema, vemos a pouco e pouco o pianos de diversos ângulos e apesar de não termos controlo sobre o que queremos ver, dá a ideia que ele existe de forma mais eficaz. Mas agora, com as novas tecnologias, não só é possível simular a sua existência tridimensional num computador que é manipulada pelo utilizador, como começam a existir projecções homográficas que trazem para a realidade esse ícone visual. E, tentando perceber o porquê dessa evolução, tudo aponta precisamente para a denominação de ícones. Os interfaces são exemplos de elementos que representam ideias que ajudam na transmissão de informações, contendo eles próprios ícones. Nós atribuímos e percebemos mais facilmente a comunicação através de uma imagem. E a electricidade como tecnologia alterou a forma como nos relacionamos.
Mas que consequências podemos retirar deste uso excessivo de mensagens e representações visuais? Muitas das coisas que vemos fazem parte de lixo visual e, neste processo para um futuro interactivo, estamos a ser manipulados. Somos tentados a comprar uma ou outra marca, a ser esta ou aquela pessoa, a agir de certa forma porque existem várias representações que, como imagens, são exemplos de verdade. Se existirem consequências significativas, podemos até pensar não só que possivelmente existirá uma tendência humana para aproximar as nossas representações virtuais da realidade a tal ponto que as manipulamos, como podemos levar à questão dessas interacções para uma a forma como homem se irá relacionar com essas formas.
Portanto, se as nossas criações tecnológicas criam um ambiente que nos alterará, de que forma vamos ser, no futuro, afectados pela percepção de forma 3d irreais no nosso mundo?
sexta-feira, 8 de maio de 2009
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