quinta-feira, 21 de maio de 2009

Realidade virtual

Em resposta ao Diogo, acho que não vamos ter grandes hipóteses de escolher o nosso futuro. Hoje em dia somos completamente impotentes perante o destino da humanidade e da nossa sociedade. Por muito que se debata a moralidade desta ou daquela tecnologia, ela vai existir, sobretudo se for, como é o caso da realidade virtual, altamente rentável.
Há tecnologias que não obedecem a esta fatal regra, como a da clonagem, manipulação genética e as tecnologias relacionadas com as células estaminais, entre outras. As células estaminais prometem curar alguns tipos de cancro, paralisias e outras doenças degenerativas, assim como regenerar membros e órgãos perdidos mas a pesquisa é proibida ou altamente atrasada por questões religiosas e morais. Irão as futuras tecnologias de realidade virtual ser condicionadas por questões morais? As igrejas não deveriam estar já atentas à realidade virtual e às consequências que têm sobre as pessoas?

Pensei também numa questão que vai de encontro ao que disse na minha primeira mensagem. A tecnologia, mesmo que ainda não tenha chegado a um ponto em que os interfaces, na sua maioria, reajam e interajam com todos os sentidos, parece estar a caminhar para lá. A Wii, já mencionada, é uma consola em que, o comando, para além de possuir botões, tem que ser movido no espaço. O jogo Guitar Hero, disponível para uma variedade de consolas, deixa o utilizador com a sensação de que realmente está a tocar um instrumento. A Nintendo Ds é uma consola com dois monitores, a interacção com um dos quais é feita através de botões e, com o outro, através de uma caneta semelhante à de um PDA. O que é mais interessante é que a Nintendo DS possui um microfone, podendo o utilizador soprar, assobiar ou falar para interagir com a consola.


A tecnologia parece estar a evoluir no sentido de tornar as nossas experiências com os media cada vez mais reais. A televisão a cores, o som em Stereo e, posteriormente, Surround e a interactividade feita através de diferentes sentidos começam a criar uma realidade virtual que compete com a realidade real. Que outra conclusão se pode tirar do sucesso do infame jogo World of Warcraft ou do Second Life? Convém mencionar as mortes relacionadas com o World of Warcraft, para realçar até que ponto certos jogadores trocam a vida real pela virtual.

http://news.xinhuanet.com/english/2005-11/01/content_3714003.htm

A imersão nos videojogos é levada ao extremo no filme eXistenZ, em que as consolas são ligadas ao corpo da pessoa e a transportam para um mundo completamente virtual em que tudo parece real, tal e qual como o mundo do filme The Matrix. Há algum tempo, falei com um amigo meu sobre a possibilidade de criar consolas disponíveis ao público capazes de simular essa realidade virtual mas em que o utilizador poderia criar a realidade que quisesse, ou seja, consolas que, em nossa casa, poderiam criar qualquer mundo que quiséssemos por mais elaborado ou fantástico que fosse e transportar-nos para esse mundo, no qual existiríamos tal como existimos neste. O meu amigo disse algo como: "Nesse mundo poderíamos ser o que quiséssemos. Poderíamos ser o Hitler!". Ficámos algum tempo a falar das possibilidades de uma máquina assim até que eu mencionei a possibilidade de, nesse mundo, experimentar qualquer droga sem qualquer prejuízo para a saúde, ao que o meu amigo respondeu algo como "Com uma máquina dessas, não precisaríamos de drogas". É aqui que esta mensagem se relaciona com a minha anterior. Karl Marx disse que a religião é o ópio do povo.


A religião não é, há já muito tempo, o ópio do povo. Foi substituída pela cultura popular, a televisão e, mais recentemente, o computador. O existencialismo levou o Homem a procurar a felicidade nos prazeres terrenos: sexo, drogas, televisão e consumíveis.



Toda esta mensagem aponta para uma negra conclusão: os filmes Wall-E e eXistenZ têm uma visão optimista do futuro da realidade virtual. Se, com a realidade virtual pudéssemos criar uma infinidade de mundos em que a vida seria inegavelmente melhor, por que haveríamos de nos contentar com a realidade? Para quê viver num mundo imperfeito em que nos falta dinheiro, a nossa namorada não é perfeita, os nossos amigos são, enfim, como são, a Terra está poluída, os governos são corruptos, as drogas são ilegais e perigosas etc.. Aliás, para quê falar de problemas tão sérios? Na realidade virtual, nem temos que lidar com os problemas menos importantes como multas, filas para pagar a conta da água ou renovar o B.I., nada de jeito na televisão, uma nódoa na camisola, ter que ir comprar mercearias, etc.. Em suma, para quê viver num mundo em que temos tão pouco poder para alterar o mundo que nos rodeia quando poderíamos viver num mundo fantástico como a Terra no tempo dos dinossauros, ou o nosso mundo exactamente igual mas em que somos o Super-Homem e podemos viajar pelas galáxias ou ainda um mundo que consistisse num quarto em que um chorrilho de mulheres perfeitas satisfaziam todos os nossos desejos, etc.? Que aconteceria se tal tecnologia fosse concebida? Seria o fim da vida como a conhecemos? Talvez não, talvez houvesse uma elite que não se rendesse às tentações de uma realidade virtual e, caso fossem religiosos, talvez matassem os corpos das pessoas ligadas a esse sistema. Deve ser uma questão de tempo até fazerem um filme assim. Esta ligação do Homem com a máquina vai de encontro ao que disse o Diogo na sua primeira mensagem.

Consideremos ainda que esta consola consegue alterar não só o espaço mas também o tempo. Por vezes, como é referido no filosófico filme Waking Life, em sonhos, parece que passam horas quando na realidade passaram poucos minutos. Se esta tecnologia fosse capaz de nos proporcionar uma experiência de vários anos noutro mundo em poucos minutos deste, seria um desperdício não a utilizar para uma infinidade de tarefas intelectuais. Por exemplo, poderia aceder a essa consola para escrever este texto em segundos e reflectir muito mais longamente sobre o que escrevo para tornar esta mensagem ainda mais brilhante, se é que isso é possível.
Se a tecnologia chegar a tal ponto, podemos especular sobre a possibilidade de um dia enviarmos a nossa consciência para a consola, passando as pessoas a viver como informação electrónica e sem necessidade de satisfazer as necessidades animais do corpo original. O corpo morre, a alma vive, num mundo virtual, para sempre. Como disse o Diogo, Homem e máquina juntam-se. É este o futuro para que caminhamos? Eu espero que sim.

Humanos interactivos

O mundo de Matrix é de facto fantastico e estamos a caminhar para la, o mundo de walle tambem é possivel e vai acontecer também quanto a mim. Estas são algumas portas do futuro, vamo-nos tornar seres 100% interactivos, vamos dar vida a novos "seres" as maquinas porque elas vão acabar por pensar devido a ganancia humana de poder de querer-mos controlar, o que nos poderá destruir pois essas maquinas poderam virar-se contra nos. Tudo isto pode e deverá acontecer, iremonos tornar seres controladores e morbidos sem actividade fisica, apenas com actividade intelectual. De facto este futuro é perturbador e incognito. O lado bom é que ja nos estamos a perparar para ele, o cinema a escrita aborda este tema varias vezes talvez pela sua importancia e controvercia. Falando do lado bom da interactividade, torna-nos seres hitech, seres sofisticados precisos mais efecientes, mas menos humanos, ate quando seremos humanos?
Lembro-me de um filme chamado Immortel de Enki Bilal em que a mensagem principal acenta em "Humanos sejam contra os implates artificiais" ou seja humanos não percam a vossa identidade, e este talvez seja o proximo passo, iremos perder a nossa identidade, ja a estamos a perder aos poucos com a massificação da internet e com o excesso de informação que engolimos diarimente atravez dos media. Mas esta perda de identidade vai mais fundo, vai ate ao ponto em que nos vamos começar a criar implantes artificiais para o nosso corpo. Onde o nosso corpo vai ser o simples ospedeiro do nosso cerebro e onde introduzimos todo o tipo de tecnologia, para satisfazermos do nosso ego. Comcluindo de facto estamos a perder a nossa identidade e a ficção futura dos nossos dias é o alimento dos nossos sonhos da ganancia do ser humano, que nos poderá destruir de uma forma ou de outra.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Na minha ultima entrada neste blog falei de duas possíveis tendências para a evolução da relação entre o homem e a tecnologia. Dois possíveis futuros. Ou as nossas invenções se tornariam mais como nós, mais humanas, ou seriamos nós que nos adaptaríamos a elas.
Mencionei a Nintendo Wii como um exemplo popular de um interface electrónico humanizado, e os jogos sociais como o Second Life como exemplo da tecnologia a sobrepor-se á fisicalidade humana.

Não acho que se trate de uma questão de qual dos dois futuros se tornará realidade, pois ambos se estão a materializar neste preciso momento. Contudo sinto que o acto de ensinar as maquinas a falar humano pode vir a ser apenas uma fase passageira pois é uma necessidade ligada apenas as ultimas gerações humanas. Nós ainda nascemos num mundo onde os livros eram feitos de centenas de paginas de papel. A forma de interagir com eles resumia-se a folhear com os dedos as paginas para avançar a leitura. Para nós faz sentido o acto de folhear, e esse gesto pode ser simulado por um monitor sensível ao toque como o do iPhone. Isto resulta num interface bastante intuitivo, mas imaginemos um futuro onde todos os livros do mundo foram substituídos por este tipo de simulações. Fará sentido para essas futuras gerações continuar a folhear? Indivíduos que nunca tiveram contacto com um livro verdadeiro e que conseguem mudar de pagina simplesmente através do pensamento? É provável que o homo sapiens como o conhecemos esteja para se extinguir em breve, e não me refiro a um grande evento apocalyptico, falo apenas da possível forma como a tecnologia nos vai alterar profundamente nos próximos séculos ao ponto de tornar-nos numa nova espécie.



Especular de que forma isso irá acontecer é dos meus temas preferidos, e um que já foi abordado repetidamente pelos media em filmes como o Terminator e o Matrix. Esses filmes sugerem que as maquinas se vão virar contra nós mal se apercebam da futilidade de servir uma raça inferior. Mas pondo para já de lado essa possibilidade pessimista, que outras formas existem de entrarmos nos próximos séculos? O Igor mencionou o mais recente filme da Pixar, o Wall-E, que achei um exemplo bastante interessante de um possível futuro da relação entre o homem e as suas ferramentas.



Para os que ainda não viram, o Wall-E é um filme passado 700 anos no futuro onde os humanos abandonaram a terra devido a graves problemas de poluição. A superfície do globo está totalmente coberta de lixo. Ficou encarregue ao solitário Wall-E a missão de limpar o planeta, até que um dia este vai-se envolver numa serie de aventuras que o vão levar para fora da terra até á actual residência da raça humana, uma nave espacial. A forma como essa nave e os humanos que lá vivem estão retratados é que é de especial interesse para este blog. Os seus corpos obesos e atrofiados ao ponto de parecerem balões de água devido á falta de exercício físico são totalmente inúteis. Como o Igor falou, as extensões tecnológicas inventadas para substituir os nossos pés deixaram marcas profundas no nosso corpo. Neste futuro as facilidades providenciadas pelas máquinas tornaram o homem num animal sem objectivos. Não necessita de trabalhar nem de fazer o mínimo esforço para adquirir o seu conforto. Vive apenas para o lazer e o consumismo superficial.
Isto levanta algumas questões mais filosóficas que o Miguel falou sobre o propósito da vida. Se num futuro como o do Wall-E a nossa função primária ainda for a procura da felicidade então eu diria que a humanidade fracassou. Ficou encalhada num tempo sem mudança e sem evolução, sem criatividade e inovação.

Mas isto segundo o contexto de uma raça que ainda é inteiramente humana, embora extremamente obesa, pois é possível que venhamos a alterar a nossa essência ao ponto de substituirmos completamente as necessidades que consideramos básicas. Falo disto pois acho bastante provável que no futuro tome lugar um acontecimento revolucionário denominado de singularidade tecnológica. Esta singularidade refere-se ao momento em que o homem cria uma máquina capaz de se auto-melhorar. Isto resultaria num crescimento exponencial de avanços tecnológicos. A bioengenharia e a nano-tecnologia evoluiriam de tal forma a tornarem os nossos corpos mais fortes, as nossas mentes mais inteligentes e seriamos imunes a qualquer doença, incluindo o envelhecimento, tornando-nos virtualmente imortais. Teríamos também a capacidade de simular a mente humana em ambientes digitais, tal como no Matrix onde tudo é possível.
Num futuro assim existiriam ainda vestígios da nossa humanidade na fusão com as máquinas? Que objectivos de vida teriam estes novos seres? Crescerem e multiplicarem-se, a procura da felicidade, a procura da verdade?
Pode parecer ficção científica, mas ponde de parte um cataclismo global que nos destrua, acredito que a singularidade tecnológica é apenas uma questão de tempo.
Que medidas deveremos tomar em relação a isso? Será correcto tentar impedir esta fusão com as maquinas de modo a preservar a nossa natureza humana, independentemente dos benefícios que possa trazer?



Recomendo muito este livro para os que tiverem interessados no tema da singularidade. The Singularity is Near de Ray Kursweil.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O mundo visual

Da outra vez, mencionei o som para focar como este está a ganhar muito mais atenção nos dias de hoje face aos últimos séculos. E isso está a acontecer com todos os sentidos, todos estão a ganhar uma importância maior. Ao ler livros podemos muitas vezes ver imagens explicativas ao lado e muitos dos livros para crianças têm mensagens sonoras, a televisão utiliza também o tacto por causa do comando, entre muitos outros que fez com que Marshall Mcluhan considerasse que estamos a tornar-nos novamente homens acústicos. E o que é um homem acústico? Existiram 4 eras pela qual a humanidade passou. A era tribal, a da escrita, a da impressão e a eléctrica. Tanto na era tribal como na eléctrica o homem define o seu espaço de percepção como esférico, devido à forma como os seus sentidos são utilizados, no caso da era tribal eles davam primazia à audição que, devido a ser abstracta, a forma como aprendíamos algo era muito genérica e envolvente, deste modo esférico. Quando falamos de era electrónica, apesar de nos basearmos muito na visão, começamos a utilizar outros sentidos. Se pensarmos na televisão, não só vemos as figuras no ecrã como ouvimos sons que associamos a estas e depois também podemos utilizar o comando que envolve o sentido do tacto. Ou seja, a televisão como elemento cool media, tal como muitas tecnologias a serem desenvolvidas hoje em dia, utilizam vários sentidos que aumentam o nosso índice de atenção e tornam a percepção de um acontecimento bastante completa. Com base nessa ideia, a nossa percepção é enquadrada da mesma forma que a da era tribal e somos homens acústicos. O que aconteceu nas outras fases foi que, com a existência do livro, a forma como o mundo era conhecido passou a ser diferente. O facto de haver linearidade, que nos levava a começar num ponto e acabar noutro, que passou a ser considerado o inicio e o fim, criou a ideia de tempo como conhecemos. Este é uma linha recta, o passado fica para a esquerda e o futuro para a direito, tendo em conta que no ocidente lemos da esquerda para a direita. Para além dessa alteração, também nos começámos a focar num único sentido, que foi o da visão e, a partir daí, aquilo que víamos era verdade, a expressão “Só vendo”demonstra esse acto.
Portanto a era electrónica e as tecnologias que criámos, alteraram e alteram a nossa percepção do mundo e principalmente a nossa relação com a sociedade, provado em teorias e análises feitas a esta, incluindo a que é feita por Mcluhan. Só que, mesmo assim, mesmo havendo uma maior participação dos outros sentidos no nosso dia-a-dia, não deixo de pensar que isso não invalida o facto que tudo é representado de forma visual. O livro provocou o que hoje em dia é uma sociedade de consumo puramente visual. Os outros sentidos fazem parte do nosso mundo – considerado mundo a forma com que, individualmente, o conhecemos -, mas continuamos a acreditar naquilo que vemos, mesmo que seja uma representação visual de um objecto. Na introdução disse que “deixámos de ver um objecto num plano real, para um plano bidimensional e, neste momento, não só podemos ver num plano tridimensional como também podemos interagir com a representação gráfica do objecto, numa tela bem mais variada do que a tradicional pintura”. Colocando como exemplo um piano, quando representado numa pintura, parecia que o quadro era uma janela para um outro mundo, mas logo percebíamos que era plano, não era como ver um piano ao vivo em que o nosso ponto de vista varia conforme a nossa localização no espaço – o objecto era único apesar de só vermos partes. Nesta Era podemos dar “vida” àquele piano representado numa tela escura de cinema, vemos a pouco e pouco o pianos de diversos ângulos e apesar de não termos controlo sobre o que queremos ver, dá a ideia que ele existe de forma mais eficaz. Mas agora, com as novas tecnologias, não só é possível simular a sua existência tridimensional num computador que é manipulada pelo utilizador, como começam a existir projecções homográficas que trazem para a realidade esse ícone visual. E, tentando perceber o porquê dessa evolução, tudo aponta precisamente para a denominação de ícones. Os interfaces são exemplos de elementos que representam ideias que ajudam na transmissão de informações, contendo eles próprios ícones. Nós atribuímos e percebemos mais facilmente a comunicação através de uma imagem. E a electricidade como tecnologia alterou a forma como nos relacionamos.
Mas que consequências podemos retirar deste uso excessivo de mensagens e representações visuais? Muitas das coisas que vemos fazem parte de lixo visual e, neste processo para um futuro interactivo, estamos a ser manipulados. Somos tentados a comprar uma ou outra marca, a ser esta ou aquela pessoa, a agir de certa forma porque existem várias representações que, como imagens, são exemplos de verdade. Se existirem consequências significativas, podemos até pensar não só que possivelmente existirá uma tendência humana para aproximar as nossas representações virtuais da realidade a tal ponto que as manipulamos, como podemos levar à questão dessas interacções para uma a forma como homem se irá relacionar com essas formas.
Portanto, se as nossas criações tecnológicas criam um ambiente que nos alterará, de que forma vamos ser, no futuro, afectados pela percepção de forma 3d irreais no nosso mundo?