Em resposta ao Diogo, acho que não vamos ter grandes hipóteses de escolher o nosso futuro. Hoje em dia somos completamente impotentes perante o destino da humanidade e da nossa sociedade. Por muito que se debata a moralidade desta ou daquela tecnologia, ela vai existir, sobretudo se for, como é o caso da realidade virtual, altamente rentável.
Há tecnologias que não obedecem a esta fatal regra, como a da clonagem, manipulação genética e as tecnologias relacionadas com as células estaminais, entre outras. As células estaminais prometem curar alguns tipos de cancro, paralisias e outras doenças degenerativas, assim como regenerar membros e órgãos perdidos mas a pesquisa é proibida ou altamente atrasada por questões religiosas e morais. Irão as futuras tecnologias de realidade virtual ser condicionadas por questões morais? As igrejas não deveriam estar já atentas à realidade virtual e às consequências que têm sobre as pessoas?
Pensei também numa questão que vai de encontro ao que disse na minha primeira mensagem. A tecnologia, mesmo que ainda não tenha chegado a um ponto em que os interfaces, na sua maioria, reajam e interajam com todos os sentidos, parece estar a caminhar para lá. A Wii, já mencionada, é uma consola em que, o comando, para além de possuir botões, tem que ser movido no espaço. O jogo Guitar Hero, disponível para uma variedade de consolas, deixa o utilizador com a sensação de que realmente está a tocar um instrumento. A Nintendo Ds é uma consola com dois monitores, a interacção com um dos quais é feita através de botões e, com o outro, através de uma caneta semelhante à de um PDA. O que é mais interessante é que a Nintendo DS possui um microfone, podendo o utilizador soprar, assobiar ou falar para interagir com a consola.
A tecnologia parece estar a evoluir no sentido de tornar as nossas experiências com os media cada vez mais reais. A televisão a cores, o som em Stereo e, posteriormente, Surround e a interactividade feita através de diferentes sentidos começam a criar uma realidade virtual que compete com a realidade real. Que outra conclusão se pode tirar do sucesso do infame jogo World of Warcraft ou do Second Life? Convém mencionar as mortes relacionadas com o World of Warcraft, para realçar até que ponto certos jogadores trocam a vida real pela virtual.
http://news.xinhuanet.com/english/2005-11/01/content_3714003.htm
A imersão nos videojogos é levada ao extremo no filme eXistenZ, em que as consolas são ligadas ao corpo da pessoa e a transportam para um mundo completamente virtual em que tudo parece real, tal e qual como o mundo do filme The Matrix. Há algum tempo, falei com um amigo meu sobre a possibilidade de criar consolas disponíveis ao público capazes de simular essa realidade virtual mas em que o utilizador poderia criar a realidade que quisesse, ou seja, consolas que, em nossa casa, poderiam criar qualquer mundo que quiséssemos por mais elaborado ou fantástico que fosse e transportar-nos para esse mundo, no qual existiríamos tal como existimos neste. O meu amigo disse algo como: "Nesse mundo poderíamos ser o que quiséssemos. Poderíamos ser o Hitler!". Ficámos algum tempo a falar das possibilidades de uma máquina assim até que eu mencionei a possibilidade de, nesse mundo, experimentar qualquer droga sem qualquer prejuízo para a saúde, ao que o meu amigo respondeu algo como "Com uma máquina dessas, não precisaríamos de drogas". É aqui que esta mensagem se relaciona com a minha anterior. Karl Marx disse que a religião é o ópio do povo.
A religião não é, há já muito tempo, o ópio do povo. Foi substituída pela cultura popular, a televisão e, mais recentemente, o computador. O existencialismo levou o Homem a procurar a felicidade nos prazeres terrenos: sexo, drogas, televisão e consumíveis.
Toda esta mensagem aponta para uma negra conclusão: os filmes Wall-E e eXistenZ têm uma visão optimista do futuro da realidade virtual. Se, com a realidade virtual pudéssemos criar uma infinidade de mundos em que a vida seria inegavelmente melhor, por que haveríamos de nos contentar com a realidade? Para quê viver num mundo imperfeito em que nos falta dinheiro, a nossa namorada não é perfeita, os nossos amigos são, enfim, como são, a Terra está poluída, os governos são corruptos, as drogas são ilegais e perigosas etc.. Aliás, para quê falar de problemas tão sérios? Na realidade virtual, nem temos que lidar com os problemas menos importantes como multas, filas para pagar a conta da água ou renovar o B.I., nada de jeito na televisão, uma nódoa na camisola, ter que ir comprar mercearias, etc.. Em suma, para quê viver num mundo em que temos tão pouco poder para alterar o mundo que nos rodeia quando poderíamos viver num mundo fantástico como a Terra no tempo dos dinossauros, ou o nosso mundo exactamente igual mas em que somos o Super-Homem e podemos viajar pelas galáxias ou ainda um mundo que consistisse num quarto em que um chorrilho de mulheres perfeitas satisfaziam todos os nossos desejos, etc.? Que aconteceria se tal tecnologia fosse concebida? Seria o fim da vida como a conhecemos? Talvez não, talvez houvesse uma elite que não se rendesse às tentações de uma realidade virtual e, caso fossem religiosos, talvez matassem os corpos das pessoas ligadas a esse sistema. Deve ser uma questão de tempo até fazerem um filme assim. Esta ligação do Homem com a máquina vai de encontro ao que disse o Diogo na sua primeira mensagem.
Consideremos ainda que esta consola consegue alterar não só o espaço mas também o tempo. Por vezes, como é referido no filosófico filme Waking Life, em sonhos, parece que passam horas quando na realidade passaram poucos minutos. Se esta tecnologia fosse capaz de nos proporcionar uma experiência de vários anos noutro mundo em poucos minutos deste, seria um desperdício não a utilizar para uma infinidade de tarefas intelectuais. Por exemplo, poderia aceder a essa consola para escrever este texto em segundos e reflectir muito mais longamente sobre o que escrevo para tornar esta mensagem ainda mais brilhante, se é que isso é possível.
Se a tecnologia chegar a tal ponto, podemos especular sobre a possibilidade de um dia enviarmos a nossa consciência para a consola, passando as pessoas a viver como informação electrónica e sem necessidade de satisfazer as necessidades animais do corpo original. O corpo morre, a alma vive, num mundo virtual, para sempre. Como disse o Diogo, Homem e máquina juntam-se. É este o futuro para que caminhamos? Eu espero que sim.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
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